domingo, 3 de abril de 2011

Naquela manhã de outono, me peguei olhando pela janela, olhos perdidos num horizonte indiferente, pensamentos inconstantes. E com um vento frio me abraçando, um pensamento em particular congelou: “Ele não merecia isso.”

Na noite anterior havíamos dormido juntos, e ele me tomou em seus braços aconchegantes e protetores, eu descansei ali, com nossos corpos entregues a lençóis quentes. Com o pensamento seguro de que na próxima manhã ainda pertenceríamos um ao outro.

Aí veio o dia seguinte... E o dia seguinte torna o dia interior meio ofuscado, e com o passar dos dias o passado se torna ainda mais opaco, então nossa imaginação tenta juntar os fatos que acabamos esquecendo, e de repente tudo se torna uma história inventada pelo nosso cérebro. Mas, continuando o raciocínio, o dia seguinte iniciou-se. E é aí que esse texto realmente começa.

Eu levantei cedo por algum motivo sem importância, mas acordei. E eu senti uma dor tão indesejada, tão inesperada, tão insuportável que logo tudo de bom que eu havia acumulado nos dias anteriores havia se transformado em nada.
Um acontecimento ruim desestrutura toda a construção dos bons. É como uma doença. É como uma sina.

Eu sabia que precisava dele, eu sabia que devia compartilhar isso, para aliviar o peso desse fardo, eu sabia que sozinha eu não daria mais nenhum passo, mas ele já estava cheio das minhas dores, das minhas manhas, das minhas palavras sem sentido. Ele estava cansado de me avisar, de me alertar e de abrir meus olhos. Mas ele era o único alívio que eu possuía.

Mas não era justo. Ele não merecia isso.

Um comentário:

Nara Sales disse...

Às vezes, por não aguentarmos o nosso fardo, acabamos por pensar que o outro também não pode nos ajudar.