quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Monólogo.


Enquanto caminhava pelas ruas sem brilho da cidade, embalada por nuvens acinzentadas e pelo vento cortante que dançava com as folhas nas calçadas, questionou-se brevemente sobre como sua principal pergunta a si mesma mudara. Antes, “Como eu me sinto?”, agora “Eu me sinto?”. Porque caminhava, observava, ouvia, mentia, mas não sentia como se estivesse mesmo ali. Ausente até mesmo de seu próprio corpo.

Escondendo-se, talvez, no silêncio da solidão d’alma.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Folhas secas

Houve um momento -Perdido em algum ponto entre o sublime e o inconsolável - que eu tive mais uma conclusão sobre o que me rodeava.

Existem certas pessoas que florescem dentro da gente de uma forma muito bonita. Tão bonita que a gente rega, a gente cuida, a gente aquece, a gente protege. E essas pessoas se tornam cada vez maiores, e vão enraizando de uma forma que fica quase impossível de arrancar. Estaria tudo bem se, por consequência da vida, as pessoas não mudassem tanto. Não apenas pelo fato de mudar, mas pelo fato dessa mudança transformar essas pessoas que floresceram tanto em flores carnívoras que vão devorando a gente por dentro, devorando toda a vontade de mantê-las perto. E quando isso acontece, a gente deixa de regar, deixa de cuidar, de aquecer. Transformamos nosso interior num inverno irremediável para essas pessoas, e aí elas secam. O resumo disso é que tudo que começa a nos destruir por dentro, acabamos deixando morrer uma hora ou outra, e tudo que sobra são folhas secas, até que, com o tempo, não sobra nada. Somos um depósito de folhas secas e também de raízes. Porque ainda há tanta coisa enraizada, ainda há tanta coisa que não deixamos morrer... E as vezes isso é tão bonito...

domingo, 13 de novembro de 2011

Endless Entertainment

Tive um daqueles momentos em que surgem epifanias; um momento muito breve, enquanto eu observava a água da chuva escorrer pela janela escura do quarto. De um jeito ou de outro, a chuva sempre me leva a pensar... As vezes dói. As vezes não faz sentido. As vezes é inútil. Mas é inevitável.

De qualquer modo, voltando ao foco do pensamento-epifania , eu percebi que mais difícil do que deixar que alguém entre na minha vida, é manter essa pessoa por perto. Nós podemos começar com um oi-te-vi-hoje ou um elogio ou qualquer forma interessante de se iniciar um diálogo. - Um diálogo bem elaborado é a forma mais fácil de prender minha atenção. As pessoas com conversas agradáveis são raras. A maioria foca o diálogo em si e acaba num monólogo, e eu acabo sendo a platéia.

A gente não sabe usar o tempo a nosso favor; pois o mesmo tempo que faz uma relação evoluir, também a desgasta. É exatamente com isso que é complicado lutar: O desgaste. Até que tudo vira pó e o vento se encarrega de levar para longe.

...Mas o fato de deixar-alguém-entrar e de manter-alguém-na-sua-vida não é mais difícil do que perder alguém que você ama. Nenhuma sensação – E estamos falando de muitas sensações – é pior do que perder alguém. Por isso a gente tenta. Por isso a gente espera que o nascer do sol amenize uma briga e o tempo a apague. Por isso a gente engole o orgulho como se fosse café amargo. Porque é melhor sentir a breve dor de um orgulho partido do que a partida de alguém essencial.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Rascunho.

Na sua ausência minha essência desaparece. Transformo-me num peso programado para aquilo que o cotidiano lhe oferece.

Uma metamorfose que se repete sempre que a dor começa a latejar.

Torno-me um céu nublado que devora tudo com um cinza tão vago quanto a ausência de cor; Um cinza que preenche o ambiente com um tom blasé. Um silêncio que não incomoda; é apenas um sinal de que todas as angústias se calaram, e meu interior não grita mais... Apenas descansa. Torno-me um abraço que se repete em algum lugar do tempo, e que me aconchega como se dissesse “Se acalme, tudo vai ficar bem”. Algo tão vago que dispensa qualquer sentimento.

E isso não dói, apenas acalma. Aconchega a alma. E as memórias não me pegam mais de surpresa como ondas vorazes por tranqüilidade, as memórias parecem ter sido dopadas, tranqüilizadas. Elas ainda estão lá, ainda carregam consigo vestígios de dor, mas estão fracas demais para me fazer sair da indiferença.

Mas a gente sempre tem que acordar desse transe. A gente sempre tem que sentir. A gente sempre tem que abraçar a angústia. A gente tem que viver e criar nossas próprias cicatrizes.

E a vida sempre altera entre lagarta e borboleta.

terça-feira, 28 de junho de 2011

I need to see your face to keep me sane.

O que corria pelas minhas veias naquela terça-feira congelante era o medo. Medo do tempo. Medo, mais especificamente, das 15:45 da tarde.

Eu o olhava calada enquanto meus pensamentos borbulhavam na minha cabeça. Volta e meia mordia meus lábios – Um gesto bem comum para mim. Significa que estou tentando não chorar – e não ousava pronunciar uma palavra. Meu silêncio era seguro, era como se fosse um muro de contenção para qualquer lágrima que quisesse sair. Se eu separasse meus lábios, se eu deixasse as palavras saírem, a contenção desabaria e as lágrimas escorreriam pela minha face... Isso seria lamentável.

Parece que o choro é uma tentativa ridícula e desesperada para pedir atenção. É quando você dilacera seu orgulho e nada mais importa. Você só chora e espera que isso resolva tudo. Mas tudo que você consegue é parecer ridículo e frágil.
Ele iria mesmo embora. Era isso. Eu não poderia fazer nada para mudar este fato.

A sucessão de fatos que ocorreram, então, foram baseadas num impulso que eu conhecia bem. - Eu. Ele. Uma porta trancada. Frio. Silêncio. Toques. Beijos. Abraços. Nudez. Intimidade. Conforto.

Continuei com meus dentes pressionando meus lábios. Qualquer lágrima estragaria tudo. Nem mesmo encará-lo eu conseguia, porque doía pensar que em alguns instantes ele não estaria mais ali.

E quando a cena mudou, quando esse ato se encerrou, eu chorei. Chorei sem culpa. Chorei porque doía. Chorei porque não queria guardar isso. Era angustiante demais para manter dentro de mim.

Mais alguns abraços e já era hora de ir. Hora de ele ir. Hora de ele levar parte de mim consigo.
Agora as lembranças me envolvem, me assistem, me devoram e meus lábios continuam entre meus dentes. Mas tenham certeza de que nada dói mais do que uma despedida. Ela nos faz provar o gosto do fim.



...Porque nem toda despedida é um fim, algumas são apenas um espaço de tempo entre um encontro e outro. Um espaço onde habita a saudade.

sábado, 4 de junho de 2011

Self-love.

Amor próprio é aquela pontada que a gente sente no peito, como se a nossa consciência implorasse silenciosamente para que parássemos de insistir naquilo que não nos levará a lugar algum. E a gente insiste em tentar seguir em frente em ruas sem saída. A única solução é voltar. Voltar e trilhar um novo caminho. Uma nova tentativa. É aquele nó que se forma em nossa garganta, nos impedindo de chorar, porque as lágrimas deterioram toda nossa superfície supostamente forte, e a gente se expõem, numa fragilidade incontestável. É quando a gente se abraça, tentando encontrar um ponto de fuga de pensamentos melancólicos e doloridos, procurando no Amanhã a cura para o Ontem e o alívio para o Hoje, com pensamentos de “Isso vai passar.”

Nós sentimos um prazer amargo na auto-tortura; Pisamos sobre cacos de vidro. Sobre aquilo que se quebrou e não pode ser consertado. Naquilo que machuca incessantemente. A dor afiada perfura nossa pele e parecemos amar nos sentir sangrando.

E quando isso acontece, é sinal de que a dor está partindo seu amor próprio em pedaços e parece ser quase impossível juntá-los. Mas a gente sempre junta. A gente sempre escapa de ruas sem saída. A gente sempre para de pisar em cacos. A gente sempre cicatriza o ontem.

É tudo uma questão de tempo, porque ele transforma os cacos em grama verde. Abre caminhos paralelos à ruas sem saída, ele transforma o ontem em breves lembranças vagas...

Mas as feridas ele não cura, apenas as enfraquece.

sábado, 7 de maio de 2011

Lover I don't have to love.

Essa é uma história sobre um quase amor entre Bruno Angeli e Malena Carvalho. Ele um homem que sentia-se na necessidade de amar, e ela uma mulher que não procurava por um amor, mas não significava que ela não encontrou.

Havia dezenas de vozes se fundindo numa multidão que parecia interminável. Os olhos de Bruno corriam indiferentes pelas faces que o cercavam. Nada tão fascinante. Nada com um magnetismo forte o suficiente para roubar um olhar demorado. Mas ele era apenas mais uma vítima do destino, da sorte, do acaso ou qualquer coisa. Num átimo, seus olhos se fixaram numa pessoa que – não tinha certeza ainda – poderia superar suas expectativas sobre alguém-interessante-e-diferente. Seus olhos a observavam vorazes, e percorriam toda a extensão do seu corpo sem que ele percebesse. A imagem a sua frente havia lhe roubado a sanidade por alguns minutos, e ele era apenas um corpo estático diante de dezenas de outros que se moviam no ritmo da música. – Que naqueles minutos parecia ter cessado. Não havia som, não havia movimento, não havia mais ninguém além dele e da mulher que observava. No meio de tanta gente desinteressante, tanta gente indiferente, tanta gente que parece não corresponder as suas necessidades, sempre há alguém em quem enxergamos uma luz de esperança reluzindo em sua volta. O primeiro olhar roubado se chama atração, mais alguns olhares e a atração evolui para uma paixão e quando todos os seus olhares se voltam apenas para uma única pessoa, é amor.

Houve por parte dele uma aproximação, uma tentativa de conversa que acabou dando certo e acabou os levando a algum lugar. Apresentaram-se com um simples Prazer-Bruno-Prazer-Malena. Sairam da zona de estou-morrendo-de-vergonha e ultrapassaram a linha da insegurança. Eles pareciam se completar perfeitamente. Como se um fosse a perfeita simetria do outro. É assim que tudo começa.

Mas os dias passam e a intimidade acaba tirando as cores daquilo que parecia ser perfeito. É fácil amar alguém no começo porque é necessário convivência para conhecer os defeitos do outro. E é necessário paciência para aceitá-los. Então no começo não é amor, é apenas um teste. O amor vem depois de todas as tempestades e vendavais, isso se tudo tão afundar.
Ele percebeu que as cores foram desaparecendo frequentemente. Que o cinza já aconchegava-se sobre eles, e suas conversas se tornavam cada vez menos interessantes. Que seus olhares desviavam dos dela. E uma lacuna parecia crescer sobre eles. Eles se tornaram cúmplices numa tentativa de salvar aquilo que estava dando seus últimos suspiros. Um quase-amor enfraquecido pela indiferença. Eram amantes que não se amavam.

E quando o fim chega, alguém sempre tem que sair ferido. E assim se fez. Ele pronunciou as palavras que colocavam o ponto final nessa breve história de um quase-amor. Ela chorou, contestou, e disse que as coisas poderiam ser diferentes. Por que é necessário chegar ao fim para querer mudar as coisas? Por que não se pode mudar no decorrer do tempo?

Ela dizia inconformada que as coisas não precisavam terminar assim. Ele dizia firme que se continuassem ele a magoaria. Respirando fundo, numa última tentativa de não perder aquilo que ela acreditava ter salvação, ela apenas disse que...

...De qualquer forma ela se magoaria. Tanto com o fim quanto com a tentativa de insistir nisso. Porque o amor é uma desculpa para se machucar, e para machucar alguém.