segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Para o que você está olhando? Para mim? Que parte de mim? A parte óbvia? Desafio-te a olhar mais atentamente. Olhe através da pele, das pupilas, das lágrimas, das minhas unhas mal-feitas e do meu cabelo bagunçado. Mergulhe em mim. Mas cuidado para não perder o fôlego.

Você precisa aprender a notar sorrisos falsos. Aliás, meus olhos vazios entregam meus sorrisos. Não se pode confiar em sorrisos, mas se pode confiar em olhares.


Eu quero que você veja além dos meus atos. Não a parte bruta, a ação em si. Eu quero que você analise como um todo. Como se eu fosse um retrato que está tentando compreender. Pode ser surreal. Não, não olhe a moldura, ela não significa nada. Olhe o que ela carrega. Está entendendo? Não consigo ser clara, mas você não deveria precisar de palavras. Meu silêncio é eloqüente. Só olhe para mim.

Não apenas olhar... Você tem que ver. E depois você tem que sentir. Por último, você tem que aceitar. Não, por último você deveria sentir o mesmo, porque o que eu sinto é bonito, é puro, e é tudo sobre você.

Amor? Não, não se trata apenas de amor. Voltando à metáfora anterior, se eu fosse um retrato, o amor seria a cor. O amor tira o preto e branco, dá vida, dá brilho, dá intensidade. Mas não é tudo. O que eu sinto por você vai além da lógica, da arte, do óbvio.

Apenas saiba que minha pele guarda seus toques como se fossem segredos. Minhas pupilas guardam sua imagem, que me mantém através da sua ausência. Minhas lágrimas guardam cada palavra não dita e cada memória.


Decifra-me.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Não se pode esperar demais de um dia nublado, sua melancolia é inevitável. Isso eu havia aprendido tempos atrás, e essa sentença sempre foi válida, sempre foi comprovada.
Acordei desesperada. Eu sabia que o final do dia marcaria o final de tantos dias ao lado dele. Eu fiquei olhando o teto, tentando colocar cada palavra em seu lugar, tentando compreender cada pensamento. Eu estava preparada para uma despedida? Acho que nunca estive. Nunca estarei. Mas como sempre, não era uma questão de escolha. E assim seria: Ele iria embora.
Fui até ele silenciosamente, me deitei ao seu lado e me aconcheguei ali, no lugar mais seguro, entre seus braços, com meu corpo grudado ao dele. Eu beijei sua pele, seus lábios, apertei-o contra mim até não haver mais nenhum espaço entre nossos corpos, eu não queria soltá-lo. Não queria deixá-lo ir.
Ele havia me marcado de uma forma intensa. A marca pulsava incessantemente desde que a necessidade se transformou em amor, mas não doía... Apenas servia para me lembrar de que nada poderia substituí-lo, e que perdê-lo seria o fim de tudo aquilo de melhor que eu possuo. E marcas assim não saem.
Não é como uma marca feita na areia, que se vai com a maré alta. Essa marca supera qualquer maré, qualquer tempestade, qualquer ventania.
Ficamos assim, deitados juntos, um completando o outro da forma mais verdadeira que poderia existir... E então, levantamos para contemplar a vida lá fora.
Quando a gente sabe que algo ruim vai acontecer, a gente não vive direito. Passamos o tempo todo esperando, meramente nos preparando para o acontecimento... E quando acontece, nos perdemos entre lençóis frios, uma cama vazia, lugares sem vida e sem brilho.
Porque a solidão é como um dia nublado, sua melancolia é inevitável.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Gritos em silêncio.

A penumbra adentrava o apartamento, mostrando que mais um dia havia chegado ao fim.

O clima estava quente, – Não era um calor aconchegante como o calor humano, era algo infernal – mas não era o ar abafado o culpado pela sua falta de ar. Ela não sabia o que era, mas tinha certeza de que estava sufocando.

E conforme ia escurecendo lá fora, ia escurecendo também dentro dela, até que nenhum sentimento pudesse ser reconhecido naquela imensidão negra.

Mas apesar de tudo, havia serenidade... Até se iniciar uma tempestade de palavras afiadas, inundando-a e afogando-a numa falta latejante de amor-próprio.

As palavras carregavam um peso insustentável, e a cada segundo ela afundava mais naquele rio de palavras que ia se formando. As frases que saiam da boca dele atingiam-na como um vento frio no auge do inverno... Era cortante.

Cortante. Insustentável. Doloroso.

O que mais doía era o fato de não ser mentira. Ela buscava em seu baú de memórias guardadas algo que pudesse a confortar; algo que colocasse um pouco de mentira na verdade, ou que pelo menos a aliviasse. Não havia nada. Nada além de uma grande culpa. De uma infinita insuficiência.

E tudo que ela sentia, tudo que ela percebia, não queria que ele também sentisse. Ela não queria que ele percebesse a insuficiência dela... Que talvez ela nunca fosse capaz de preencher as urgências dele.

A tempestade de palavras cortantes havia cessado, mas não a dor. Essa pulsava loucamente dentro dela, se debatendo entre suas entranhas, querendo sair em forma de gritos agudos ou de lágrimas contínuas, intermináveis. Ela precisava por aquilo para fora... Em silêncio.

O silêncio devorou o som. Em instantes não se ouvia nada além dos barulhos cotidianos da noite. O silêncio indiferente doía mais do que o corte profundo causado pelas palavras. Pela verdade...

Havia muito a ser dito, mas ela sentiu receio em quebrar o silêncio. Estava paralisada, como se a veracidade das palavras fosse venenosa e a tivesse atacado. Não se moveu.

Estavam deitados juntos. O escuro a impedia de olhar para ele, talvez fosse melhor assim. Seria insuportável olhá-lo nos olhos. Ele, então, se virou de costas para ela como se isso mostrasse que havia desistido de esperar que ela dissesse alguma coisa. Então ele adormeceu, e ela permaneceu imóvel – Apenas por fora, porque por dentro uma dor brutal movia-se incansavelmente.

Minutos depois ela esticou seu braço para tocar a pele nua das costas dele. Com isso, seus olhos cederam e as lágrimas caíram silenciosas. O que mais doeu nesse ato foi o pensamento de que, esticando o braço ela podia alcançá-lo. Mesmo decepcionado, ele estava ali, dormindo ao lado dela... Mas e se um dia ela esticar o braço e não conseguir alcançá-lo? E se ela esticar o braço apenas para sentir O Nada? E se ele se tornar para sempre inalcançável?

Esse foi o estopim da dor.

Ela levantou-se sem fazer barulho e trancou-se no banheiro, como se ali fosse um lugar seguro, uma fortaleza impenetrável onde ela poderia despejar sua dor. E assim o fez... Em silêncio. Chorou por um tempo, não até o fim, mas precisava diminuir a dor antes que a mesma crescesse dentro dela como uma praga, devorando tudo que fosse bonito. Tudo que a fazia bem.

Voltou para a cama. Para o lado dele. Agradeceu por estar escuro e por ele ter adormecido, assim não veria seus olhos vermelhos e sua cara inchada.

Numa última tentativa de aliviar a culpa, ela novamente o tocou, e com a ponta dos dedos ela escreveu nas costas expostas dele “Desculpa. Eu amo você.”

A dor havia se aquietado. Ainda estava lá, mas escondia-se silenciosa na escuridão dentro dela. Uma última lágrima tocou o travesseiro e ela adormeceu.

Seu pensamento? “O clarear do dia lá fora irá clarear dentro de mim, limpando qualquer vestígio de escuridão. Eu vou ser suficiente para você, porque sempre que eu esticar meu braço, tudo que eu quero é te sentir. Saber que ainda está aqui.”